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Âncora 1

Ilegalidade

na região

Dom Fotográfico

Não há argumentos que os faça parar. Ilegalmente ou legalmente, a fabricação de cerveja foi tatuada em negrito no coração de cerca de 12 cervejeiros em Lumiar e São Pedro da Serra. Von Klein, Ranz Bier, Lumiar Moutain Bier, Lumiarina, ArtBier, Encontro dos Rios, Onurb, Ilegal, Clandestina, Ringgenberg e outras duas cervejarias sem rótulo formam o grupo de cervejeiros que insistem em viver desta prática. Estes parecem repletos de orgulho por terem se encontrado na vida e enchem a boca para falarem de suas "obras-primas". A máxima de que "o trabalho enobrece o homem" estava encolhida, entocada, doente no coração destes produtores, mas em algum momento da vida, seja com 20 ou 50 anos, eles parecem ter enxergado uma paixão que dizem ser para toda a vida. Se eles forem impedidos de comercializar as cervejas, será um baque às suas ambições, mas garantem que fazer cerveja é igual andar de bicicleta: ninguém esquece de um dia para o outro. Esta é a história estereotipada, contada por relatos unânimes, mas cada um destes produtores tem suas peculiaridades, suas respectivas opiniões e diferentes planos para o futuro.

 

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Abordagem do Mapa

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O caráter irregular das cervejarias da região é exatamente o que boicota medidas de incentivo e maior divulgação da cultura cervejeira local. Alguns produtores não possuem segurança para colocarem suas cervejas em evidência e evitam anúncios em jornais, revistas, sites e redes sociais. Reinaldo da Silva, recepcionista do Centro de Informações Turísticas de Lumiar - centro privado, sem relações com a Prefeitura de Nova Friburgo -, conta que os visitantes da região procuram constantemente a cervejaria Ranz, esta já consolidada e renomada. “Os turistas que chegam aqui me perguntam pela cervejaria Ranz e eu a indico, mas nunca fui perguntado sobre as outras marcas”, disse Reinaldo. As nanocervejarias caíram ainda mais no anonimato depois que os bares e restaurantes deixaram de comercializar suas cervejas. Isto porque uma ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) advertiu e multou os empreendimentos pela venda proibida de cervejas sem o selo da pasta, no dia 22 de julho de 2016. Agentes do ministério visitaram Lumiar e adjacências munidos de uma lista de estabelecimentos comerciais que estariam vendendo cervejas artesanais em situação ilegal. A ação foi motivada por uma denúncia à ouvidoria do  Mapa, como confirmado pela pasta em resposta para esta reportagem. 

 

Na ação, as cervejas identificadas como ilegais foram descartadas. Centenas de litros foram jogados fora na frente dos comerciantes. Apenas um dos estabelecimentos abordados foi multado. Todos  os outros receberam apenas uma advertência e algumas ameaças para evitar reincidência. Marcelo Abicalil, dono da "Bomboniere Lumiar", comercializava duas marcas de cervejas artesanais e outras bebidas caseiras, como cachaça e licores. Ele denuncia uma abordagem truculenta dos agentes e estranha o fato de ser o único a ser multado, além de processado judicialmente. Ele promete recorrer e pedirá à Justiça indenização por danos morais pela má condução do procedimento: "O constrangimento que eles causaram à minha esposa foi um absurdo", reclama.  

 

As nanocervejarias, no entanto, ficaram ilesas frente à ação, mesmo tendo os fiscalizadores identificado inúmeros rótulos ilícitos. Derci Klein, dono do famoso Bar do Vovô, tradicional ponto da boemia em Lumiar, escapou da abordagem, pois estava com seu bar fechado. No entanto, ele tem se precavido após o alerta, mas lamenta: "Depois da ação do Mapa, eu dei uma parada. Só estou vendendo as que tem selo do Mapa agora. Mas o pessoal gostava muito mais das cervejas locais do que as com o registro". Outro comerciante que se queixa da proibição das bebidas artesanais é Celso Schueler, que comanda o Celso's Bar. Após sofrer uma advertência e ser obrigado a descartar cerca de R$300,00 em bebidas, o comerciante relata que não tinha noção de que estava descumprindo a lei: "Foi feita uma propaganda em torno do polo cervejeiro em Friburgo, eu já havia colocado um cartaz anunciando as artesanais lá fora (do bar). Eu não sabia que era proibido comercializar. Por mim eu não estava descumprindo nada. Para mim, cerveja artesanal você podia fabricar e vender, desde que existisse uma aceitação do público. Também não sabia que existia um critério tão grande para abrir uma cervejaria. Eles (os agentes) foram educados, não houve truculência, mas disseram que havia uma denúncia e que tinham que me notificar. Ameaçaram me multar em caso de reincidência. Agora, as pessoas chegam aqui e me pedem a Von Klein, mas não tenho mais", relata.

           

Há sete anos em atividade sob o comando do chef Helton Almeida, a Oficina da Gastronomia sempre contou com marcas artesanais em seu cardápio. Alguns episódios, porém, comprometeram o espaço destas bebidas no restaurante antes mesmo dos agentes do Mapa visitarem a região. "Eu já havia parado de comercializar estas cervejas depois que uma cliente moveu um processo contra mim. Por azar, vendemos uma cerveja passada da validade. Ela era advogada, examinou a cerveja, constatou a inexistência de registro e processou a marca e o nosso restaurante. Depois disso, varri todos os produtos sem registro do meu restaurante. Não vendo mais nada, nem geleias, nem licores, nem cachaças", garante.

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Analisando o outro lado da moeda, que foge dos argumentos dos cervejeiros, o chef de cozinha vê a maioria das exigências burocráticas que uma cervejaria possui para regularizar o negócio como justas, uma vez que atende premissas importantes de higiene, obrigando as fábricas a se organizarem. “Na realidade, sempre vendi bem a Barão Bier, que tem registro do Mapa. Até porque a empresa é mais profissional e conseguem manter uma frequência. Nunca faltam os quatro tipos de cerveja que fornecem. Meticulosamente, visito a Barão Bier e garanto que é impecável”, diz. Ele, no entanto, se diz aberto ao retorno das cervejas ao seu restaurante, desde que estejam plenamente regularizadas. “Meu restaurante está aberto para receber novamente as cervejarias locais. A partir do momento que se regularizam, eles garantem ao público uma questão de saúde e higiene. Uma coisa é fazer cerveja em casa ou em um quintal... isso é legal para servir em casa, para a família e para os amigos. Para vender, é complicado”, salienta.

 

Bruno Leitão, um dos sócios-proprietários do Lumiar Bier Pub, é também o cervejeiro da Ilegal Cervejaria. Ele diz ter tido sorte ao livrar-se dos agentes do Mapa. "Graças a Deus não fui afetado quando bateram aqui. Foi só sorte, porque era quinta-feira e estava fechado, senão eu ia me ferrar. Ia ser ridículo, na verdade", diz Bruno, que explica o curioso nome da marca.  "O 'Ilegal' é totalmente diferente do propósito que a maioria das pessoas acham. O Ilegal se dirige à Lei Seca Americana. A ideia é mais voltada para isso. A fonética do nome também foge desse propósito. É Ilegal Cervejaria. Se fosse Cervejaria Ilegal seria mais tendencioso. É mais uma empresa do que uma brincadeira". Já calejado, ele não se intimida com as investidas das autoridades públicas sobre o mercado de cervejas ilegais, mas promete: "Estou comprando equipamento e em máximo em fevereiro já vamos começar o processo de legalização da cerveja. Aí vai ser a melhor coisa", comemora.

 

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Nanocervejeiros: vítimas ou bandidos?

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“Eu vou confessar. Quando veio a fiscalização, eu me senti um bandido”. Esse é o depoimento de Pedro Philippe, da cervejaria Von Klein, que acabou perdendo seu único mercado de comercialização de cervejas após a ação que advertiu e multou os estabelecimentos de Lumiar e São Pedro da Serra. Segundo o dicionário do Google, “bandido” significa “indivíduo que pratica atividades criminosas” ou “pessoa com sentimentos ruins”. A primeira definição, ao pé da letra e sem dimensionar a intensidade da infração, constata que os produtores tem o perfil do adjetivo. A segunda, no entanto, parece bem distante da realidade destes cervejeiros. Além disto, a ilegalidade não tem sido uma escolha, segundo confirmam em seus depoimentos.

 

“Sabendo que o produto está ok, não me considero bandido”, alega Thiago Emerson, da Lumiar Moutain Bier. Jonas Kaynnã, da Ringgenberg, concorda e vê hostilidade no tratamento das autoridades aos cervejeiros da região: “Eu trabalho de forma limpa, a cervejaria é limpa assim como de muitos cervejeiros da região. Só que a gente é tratado como bandido pelo Mapa, o que não somos de maneira nenhuma. A gente é trabalhador honesto como todo mundo. Aqui na nossa região, existem vários restaurantes e bares que trabalham de forma irregular e não tem essa fiscalização escrota e estúpida que tem para gente. Isso tudo começou de uma forma que não era para ter acontecido. Acho que o governo agiu de forma muito bruta, o que prejudicou a gente”, reclama, se referindo à mais recente abordagem dos agentes do Mapa. 

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Embora os espaços de fabricação de cerveja não tenham sido fiscalizados, os cervejeiros dizem ter sentido na pele o drama da ameaça de sofrerem um prejuízo ainda mais drástico. “Eles falaram de forma firme que gostariam de me pegar e saber onde era minha produção. Jogaram minha cerveja fora, ameaçaram as pessoas que trabalhavam vendendo cerveja de fechar os estabelecimentos. Então você acaba se sentindo um fora da lei, uma pessoa errada. A gente trabalha com essa tensão: ‘caraca, será que alguém vai me pegar hoje?’”, explica. “É como se você não tivesse pagado o IPVA do seu carro ou estivesse sem habilitação. É mais ou menos esse sentimento”.

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Sebrae: alternativa de incentivo  

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Embora a situação atual das cervejarias artesanais em Lumiar e São Pedro da Serra seja ociosa, uma vez que bares e restaurantes se recusam a investir nas bebidas, com medo de multas, os produtores se mexem em busca de novas alternativas. Esperar uma lei mais específica que defina premissas mais justas para a regularização de pequenas cervejarias parece ser o caminho mais difícil. Sendo assim, alguns nanocervejeiros têm feito o que está ao alcance deles e têm aproveitado para estudar novas alternativas para legalizarem seus negócios.

 

Algumas das oportunidades são oferecidas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em seu escritório de Nova Friburgo, a entidade aproveita o “cenário favorável e ao mesmo tempo cada vez mais competitivo” para oferecer, gratuitamente, vagas para empresários do setor em uma oficina de orientação de mercado aos produtores de cervejas especiais. De acordo com a analista do Sebrae/RJ, Márcia Moreira, o objetivo da oficina é capacitar os participantes para que façam uma leitura mais apurada do mercado e entendam melhor seus consumidores, como diz em entrevista à assessoria da instituição. O papel mais decisivo a respeito da legalização de pequenas cervejarias, porém, cabe a Paulo Mangia, consultor do Sebrae/RJ. Ele tornou-se um dos principais pivôs do processo de legalização da Von Klein, do cervejeiro Pedro Philippe Klein. Paulo diz que apesar das burocracias, a criação da empresa e a regularização junto ao Mapa não é um “bicho de sete cabeças”. Ele se diz aberto e motivado para orientar e alavancar o negócio de outros empreendedores de Lumiar e São Pedro da Serra. "Na realidade, existe uma lei de incentivo em Nova Friburgo que tem uma desburocratização para ajudar os cervejeiros. Depois da visita do Mapa (que multou bares e restaurantes), entrei em contato com o Pedro (dono da cervejaria Von Klein) e estou ajudando ele. Não é um bicho de sete cabeças. Nosso papel é ajudar o pessoal a colocar a cerveja na rua, no mercado, de forma legalizada. A cerveja dele é muito boa, tem uma boa avaliação e com o produto registrado poderá participar de vários eventos, o que pode dar uma boa alavancada.", diz o consultor, que dá sua opinião sobre às cervejarias que nascem em casa. "Não temos nada contra aquele que quer produzir na panela, só que o paneleiro não pode comercializar o produto. Está na legislação brasileira", afirma.


Em resposta à solicitação no portal de transparência, sobre as ações de apoio aos microempreendedores cervejeiros, o Mapa afirma que “trabalha em conjunto com vários órgãos para disseminar as exigências legais para regularização de cervejarias, estando em fase final a elaboração de uma cartilha de regularização junto a SENAI para divulgação” e declarou, ainda, que promoveu “uma palestra sobre o assunto na sede da FIRJAN contando com a presença de vários interessados em formalizar seus projetos de negócios”.

 

Auxiliado pelo projeto do Sebrae, Pedro Philippe vende a cerveja Von Klein há 2 anos e 6 meses, de forma irregular, nos bairros de Lumiar e São Pedro da Serra. O empreendedor de 28 anos, que já foi garçom, recepcionista, cobrador de ônibus, dentre outros cargos, aprendeu as técnicas de produção de cerveja com Gustavo Ranzato, dono da Ranz Bier. Após o fim de sua experiência, encantou-se pelas facetas e pelos detalhes da formação de um produto considerado nobre por ele. Então, Pedro começou realizando todos os procedimentos na cozinha de casa e, aos poucos, foi tornando cada vez mais profissional o processo de produção da bebida. Projetou um rótulo, comprou suas primeiras garrafas e tampas, e passou a comercializar a cerveja nos comércios que se interessassem. Com o sucesso da bebida entre os clientes, aceitou a entrada de um sócio no negócio e adquiriu caixa para alugar uma loja com ferramentas de ventilação, comprar equipamentos que agilizam a fermentação da bebida, entre outros investimentos. Tudo, no entanto, não chegava nem perto das exigências do Mapa. Após a ação que proibiu os estabelecimentos de comercializarem as cervejas artesanais irregulares de Lumiar, tudo foi por água a baixo, mas o cervejeiro não se entregou e procurou outros caminhos. Entusiasmado e com brilho nos olhos, ele começou a engatilhar o selo da legalidade para não ser obrigado a abrir mão de um sonho. Pedro, assim como os demais cervejeiros de Lumiar e região, tem na falta de verba, nos bloqueios da lei e na falta de informação qualificada, os principais impedimentos para comercializar legalmente sua cerveja. "Sempre achei impossível legalizar a cervejaria porque sempre faltou grana para comprar os equipamentos em aço inox e dar início a um processo de regularização. E faltava informação, porque eu deveria procurar mais saber como fazer e as outras formas de poder vender a cerveja de forma legal. Depois eu fui orientado pelo Sebrae, que me apresentou outras possibilidades. Me orientaram e me deram um caminho para poder legalizar a cerveja", diz.

 

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Os irmãos 'cabeça': modalidades cigana e ambulante se tornam alento
      

 

Os nomes de Pedro Philippe (28) e Jonas Kaynnã (22) já foram citados diversas vezes nesta reportagem. O fato dos dois dois serem irmãos, até então parecia irrelevante, uma vez que, atualmente, cada um segue seu destino e suas convicções. Em 2014, a história começava a ser contada. Convidado a ajudar o irmão nos processos de produção da cerveja e manutenção da pequena fábrica, Jonas topou o convite, deixou o Rio de Janeiro – onde vivia há pouco mais de x meses – e retornou a Lumiar confiando em uma boa oportunidade. Apesar da dificuldade no início com todos os detalhes minuciosos sobre as etapas do processo, aos poucos o garoto foi tomando gosto pela coisa e se unindo cada vez mais com o irmão. No último semestre da parceria, que durou cerca de dois anos, surgiram imprevistos, interesses diferentes e as divergências começaram a aparecer. “Um belo dia acabei me tornando sócio do Pedro, comprei uma parte da cervejaria e, logo em seguida, o Mapa bateu em Lumiar e deu aquela confusão toda. Eu e Pedro tivemos duas ideias diferentes. A minha ideia foi continuar vendendo cerveja irregular. Ele quis legalizar. Eu quis seguir uma linha de visão e ele quis outra. As duas são linhas boas, mas diferentes, então não dava para seguir junto”, explica Jonas, que após o fim da parceria decidiu criar sua própria cerveja, a Ringgenberg, homenagem à família suíça de sua mulher.

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Com apenas 22 anos, Jonas divide uma casa com a mulher e sua pequena filha, que sequer completou o primeiro ano de vida. Em “Os cervejeiros”, Jonas conta sua história e todas as funções que desempenhou a partir da adolescência para sobreviver. Com apenas 10 anos, o jovem cervejeiro circulava pelas ruas, bares e restaurantes de Lumiar oferecendo lingeries, ervas, chás e outros tipos de mercadoria. Já vendeu tudo que você possa imaginar. Diante da impossibilidade e falta de recursos para comercializar sua cerveja, atividade esta que se recusa a abandonar, Jonas criou uma nova modalidade de venda de cervejas artesanais. Ele encontrou uma brecha nas leis sobre artesãos e ambulantes e tem conquistado seu sustento e de sua família oferecendo (achar sinônimo) a bebida da mesma forma com que começou a ganhar dinheiro, 12 anos atrás: diretamente no consumidor. SEGUNDO A LEI BLA LBA LBA Sem mesa, sem cardápio, sem música ao vivo, sem 10%, sem nada. A estratégia do cervejeiro consiste em convencer as pessoas, na base da conversa e do “desenrolo”, em lugares de grande movimentação, como praças e bares a céu aberto. No mês de outubro, Jonas estima ter vendido 100 cervejas, cada uma por R$ 15. “A minha ideia, como eu já fui vendedor e eu vendia na rua, é vender para o público na rua. Já que não posso vender em bares em restaurantes. A ideia é vender para o povo começar a conhecer a minha cerveja e me ligar, encomendar para uma festa ou outra. Às vezes, se está com um amigo, encomenda uma caixa ou outra. É uma coisa inovadora, ninguém faz”, diz, empolgado.

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Já Pedro Philippe atendeu às orientações do Sebrae e encontrou uma forma mais segura de produzir cerveja e comercializá-la sem a perseguição das autoridades. Sem perder tempo, ele começou a correr atrás do necessário para voltar a vender sua cerveja o mais rápido possível. Largou na frente dos outros cervejeiros ilegais, que ainda não tem previsão de regularização de suas marcas. “A curto prazo, meu sonho é legalizar e poder trabalhar. Só isso. Porque eu fui impedido de trabalhar. Eu só quero essa tranquilidade de poder trabalhar sem ser incomodado”, afirma. No início de outubro de 2016, o cervejeiro iniciou produção de cervejas conhecida como “cigana” e já vislumbra o retorno das vendas da Von Klein em Lumiar e São Pedro, além de distribuir para outros centros como Nova Friburgo, Niterói e Rio de Janeiro. “Essa foi a alternativa mais fácil, que eu não precisaria ter esse investimento de equipamento e local. Esse caminho foi ótimo, porque eu já estava quase desistindo. Foi uma esperança para a gente poder legalizar e ter a cerveja de volta ao mercado”, celebra.

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A “cerveja cigana” consiste em alugar uma cervejaria legalizada, que disponibiliza o espaço e os equipamentos necessários, com o selo do Mapa, para produzir e armazenar as cervejas. Além de acordar um contrato com os proprietários da fábrica regularizada, Pedro teve de providenciar a análise de todas as suas receitas de cerveja no ministério e dar entrada na abertura de uma empresa. Ele estima que até o início de dezembro, tudo estará fechado. Embora a alternativa pareça completamente viável e seja a última cartada, o empreendedor se mostra receoso e admite o risco de se comprometer com uma altíssima carga tributária. “É um desafio, ainda é um ‘x’. Quando a gente sonha, a gente faz de tudo e não mede esforços para dar certo. A questão da tributação é muito pesada, pois as taxas são as mesmas das grandes indústrias. A minha produção é extremamente menor. Um dos desafios é eu ter uma boa logística e resolver a questão tributária”, completa. Com o "ok" do Mapa próximo, outra possibilidade que vem sendo analisada pelo cervejeiro seria formalizar uma parceria com um restaurante ou bar para usufruir de seu CNPJ. Segundo Pedro, esta seria uma alternativa viável para fugir da alta tributação e assegurar segurança à venda do produto.

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Os dois irmãos, com princípios, sonhos e motivações diferentes, ao menos tem como semelhança a criatividade, a obstinação, a dedicação e o desejo de que todos os cervejeiros se deem bem nesta difícil empreitada. “Não tem competição nenhuma. Sempre fomos unidos e compartilhamos dicas entre nós. Eu como visionário da cultura (cervejeira), sempre vi que Lumiar tinha potencial de ser um polo, então você tem que fomentar”, explica Pedro. 

Perguntados sobre quem faz a melhor cerveja, ambos usam o bom humor. Jonas brinca: “O aluno sempre ultrapassa o mestre”. Pedro retruca, com um sorriso no rosto: “Acabou de nascer. Ainda é infantil”.

 

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Por que desistir não é uma opção? 

 

  

                                                                    Thiago Emerson - Lumiar Moutain Bier

 – A cerveja é minha única fonte de renda. Não é nenhum embarreiramento, de nenhum órgão, que vai impedir um cervejeiro de continuar sua profissão. Todo cervejeiro pode sim fazer sua cerveja em casa. Meu projeto é não só ter vindo para a Pousada (Toca da Onça), como a legalização dela com o enquadramento do Mapa. A obra de adequação, a compra do novo equipamento, a regularização da receita... assim vou poder ampliar o raio de venda na região e também fora do estado. 

 

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                                                                               Pedro Philippe - Von Klein

 

 – Foi um divisor de águas (a cerveja). Vi com uma paixão, me achei. Com 25 anos, me encontrei e me realizei. Encontrei o que eu queria fazer para o resto da minha vida. E em certas partes, foi a coisa mais estável da minha vida, porque só dependia de mim para fazer dinheiro. É o que eu escolhi pra mim. Eu nunca vou parar de fazer cerveja. Eu sei que eu posso fazer cerveja em casa, para eu beber. Mesmo se eu não conseguir a parte de legalização para eu comercializar, eu vou fazer para eu beber. E eu tenho meus clientes, o pessoal vai lá em casa, vai comprar, e eu acabo conseguindo viver disso. Mas pode ter qualquer obstáculo, posso ser preso, pode acontecer qualquer coisa, mas eu não vou parar de fazer cerveja. Eu passo toda minha paixão para a cerveja. O que me orgulha é passar tudo isso para um produto de qualidade e ter um feedback do cliente. Isso me deixa feliz e orgulhoso.

 

                                                                              Jonas Kaynnã - Ringgenberg
 

 – Primeiro que eu adoro o que eu faço. Isso me dá uma qualidade de vida muito boa e eu prezo muito acompanhar o crescimento da minha filha. Trabalhando com outra pessoa, isso não seria possível. A paixão pela cerveja também é muito forte. Eu tenho todos os equipamentos pra fazer cerveja. Ora bolas, se eu tenho todos os equipamentos pra fazer cerveja, por que vou arrumar um emprego se eu posso correr atrás? Ainda tem muito campo, está crescendo no mercado e no meio dessa crise é algo que tá crescendo. Então por que parar? Só tenho motivos pra continuar, apesar das barreiras, mas tem alternativas e rotas para continuar. E eu escolhi uma dessas (a modalidade ambulante). 

 

                                                                  Bruno Leitão - Ilegal Cervejaria

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 – Cara, eu tinha um amigo meu que trabalhava comigo. Ele era "barman" e começou a fazer isso daí. Hoje em dia o maluco é sinistro na cerveja e é professor dessa parada. Em 2013, comecei a ver esse mundo. Sempre gostei de beber cerveja diferente, sacou? Só que eu nunca havia visto essa parada perto do cervejeiro caseiro, de perto, de ver as panelas... Primeira vez que eu bebi uma cerveja caseira, eu cheguei e “mermão, que isso, 'brother'... Tu que fez isso?”. Eu bebi uma "rauchbier", uma cerveja defumada. Eu vou ser um dos poucos a segurar minha cervejaria e não vender. Por R$ 100 milhões eu vou (risos) e compro outra cervejaria. Eu monto e eles compram (risos). Meu sonho é ficar legal, legalizar minha cervejaria e viver minha vida. Pagar minhas contas em dia, não quero almejar demais... quero viver tranquilamente e beber bastante (risos).

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