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Âncora 1

Potencial. Esta é a palavra mais entoada por moradores, comerciantes e cervejeiros quando o assunto são as nanocervejarias de Lumiar e São Pedro da Serra. A destacada presença dos alemães, um dos povos colonizadores de Nova Friburgo, foi fundamental para a evolução da cultura cervejeira do município. A influência germânica e a explosão nacional das marcas artesanais no Brasil tornaram as marcas especiais um novo atrativo do turismo local. Elas ganharam espaço nos cardápios de bares e restaurantes, nas prateleiras de mercados e no gosto dos amantes de cerveja, aquecendo ainda mais o mercado do setor. Visitantes são seduzidos, e o turismo da cerveja tem sido cada vez mais estimulado na região. Neste contexto, os bairros de Lumiar e São Pedro estão inseridos com destaque, mas a predominância de nanocervejarias irregulares impede que as marcas locais estejam entre as protagonistas da Rota Cervejeira do Rio de Janeiro. Apenas a Ranz Bier, legalizada recentemente, está na lista de marcas que formam o circuito, patrocinado pelo governo do Estado, em parceria com o Sebrae e prefeituras das cidades envolvidas, além de contar com a divulgação do Ministério do Turismo. O roteiro foi inaugurado em 2015 e engloba as cidades de Friburgo, Petrópolis, Cachoeiras de Macacu, Santa Maria Madalena, Guapimirim e Teresópolis. Os financiadores estimam 150 mil visitas ao polo por ano. A rota foi criada especialmente para proporcionar aos visitantes uma imersão na cultura da cerveja, na gastronomia, misturado ao rico cenário de montanhas, cachoeiras cristalinas, parques naturais e tantos outros atrativos turísticos da região, além de unir produtores de cervejas e guiar turistas aos melhores pontos para o consumo da bebida. Entre os nomes que compõem o circuito estão marcas famosas, como Bohemia, Petrópolis e Brasil Kirin, responsáveis pela produção das cervejas Cintra, Schin, Devassa e Glacial.

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Diante da explosão do setor de cervejas artesanais na região, um novo perfil de consumidor tem sido formado em Lumiar e São Pedro da Serra, que possuem um cenário primoroso para a sintonia do turismo cervejeiro com a natureza, as estações do ano, agastronomia e a hotelaria. A região possui uma capacidade enorme para se consolidar como uma potência na Rota Cervejeira, uma vez que se concentra em um local enxuto, porém elegante, e com deslocamento rápido entre todos os pontos de comercialização das cervejas artesanais. Se a demanda não é um problema, uma vez que o mercado de bebidas alcoólicas no país está longe de entrar em crise, a oferta também não. Existem mais de 10 cervejarias na região, buscando alternativas para legalizarem seus negócios com a perspectiva de explorar a procura permanente dos turistas. Além disto, uma visita a uma região desconhecida, acaba instigando a compra de uma lembrança para levar de recordação para casa, ou como forma de presente a um parente ou amigo. As cervejas de Lumiar e São Pedro da Serra surgem como uma excelente opção de escolha por seu custo-benefício, pela autenticidade local e por serem uma espécie de raridade, que não se encontra em qualquer.

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Turismo Cervejeiro

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O turismo da cerveja é uma indústria em expansão e várias empresas oferecem viagens para as grandes regiões cervejeiras, principalmente em polos como Bélgica, Alemanha e Canadá. No Brasil, muitas cervejarias têm centros de visitantes onde se pode comprar e degustar depois de um tour pela fábrica. A cidade de Petrópolis conta com as visitas às fábricas da Itaipava e da Bohemia. No Sul do Brasil, a Oktoberfest de Blumenau (SC) recebe centenas de excursões e milhares de turistas por ser considerada a maior festa alemã da América Latina. Outras cidades do Sul, do interior de São Paulo e em Minas também são potencias que atraem visitantes para o consumo de cervejas especiais. Provar cervejas locais, diretamente da fonte, se tornou um vício para apreciadores da bebida.

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“O turismo cervejeiro é muito forte. Em Curitiba, a cervejaria Bodebrown – para mim é a melhor cervejaria do Brasil, junto com a Tupiniquim e a Invicta –, Samuel Cavalcante inova em umas paradas absurdas. Ele inventou o trem da Bodebrown e vai gente do Brasil inteiro conhecer a cerveja dele. As rotas de Curitiba e Belo Horizonte são fortes demais. São Paulo, Ribeirão Preto estão caminhando... Rio Grande do Sul e Santa Catarina tem cervejas muito bem executadas”, diz Bruno Leitão, da Ilegal Cervejaria, que engatinha ideias para legalizar sua produção e organizar o grupo de cervejeiros: “Estamos querendo fazer uma cooperativa cervejeira. Seria a melhor coisa, mais barato para todo mundo e muito mais prático e rápido. O bom de cada um fazer em uma cervejaria seria uma espécie de rota, porque o turista já traçaria um projeto de conhecer todas as cervejarias de Lumiar, São Pedro, Boa Esperança... Vou te dizer que ia crescer muito o turismo aqui”, opina.

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Quem já deu entrada no processo de legalização, também torce pelo sucesso do polo e de todos os nanocervejeiros da região. Pedro Philippe, da Von Klein, nega que haja competição neste aspecto e relata os primeiros passos para que um dia se pudesse sonhar com uma rota cervejeira em Lumiar e São Pedro: “Com a qualidade da cerveja do Gustavo, começou a ficar famoso. A gente começou a trabalhar junto, fazendo um trabalho de qualidade e começou a agregar. Outras cervejas foram chegando, cada uma com sua peculiaridade e qualidade. Foram ganhando o público e se tornou uma atração. Acho que deveria existir uma rota e apoio, mas ainda estamos no caminho para chegar a uma estabilidade. Aí sim poderemos atender o turista que vem procurar as cervejas. É cômodo para o turista, chegar e encontrar vários rótulos aqui”, pontua.

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O que é local sempre é melhor

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Viajar não necessariamente significa conhecer um lugar desconhecido, mas evidentemente o maior atrativo de uma “trip” é ser saudado por um novo visual, novas pessoas, outros hábitos e culturas diferentes. O que se veste lá? O que se come? O que se bebe? A experimentação é a “galinha dos ovos de ouro” de qualquer região que receba turistas. A todo instante, o visitante está sendo convencido por uma harmonia de fatores de que deve retornar àquele local. Um local turístico vive de publicidade, e diversos setores da economia de Lumiar e São Pedro da Serra, como a hotelaria e o comércio de alimentos, sofrem um bocado com o baixo investimento de incentivo a quem deseja acrescentar visibilidade com bons produtos. As cervejas artesanais não fogem deste cenário, vide toda a instabilidade, oscilação e desinformação para que os produtores possam trabalhar.

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“Lumiar tem um potencial enorme para o turismo. Só tem que saber explorar. Já mostrou potencial cervejeiro, dá para fazer festivais de cerveja. Eu tendo minha cerveja legalizada, penso em ter um ponto fixo para vendê-la e financiar shows para fomentar o turismo. O pessoal gosta do forró na praça, mas acabou, porque os comerciantes não ajudam. Eu penso em pedir na prefeitura um centro de turismo e histórico. Turista chega aqui e não sabe a história do lugar. Ele não sabe onde tem uma pousada no nível dele, ele tem que procurar. Falta estrutura para atender o turista”, reclama Pedro Philippe, da Von Klein.

O irmão do cervejeiro, Jonas, da Ringgenberg, é outro entusiasta que acredita piamente que Lumiar precisa abrigar um circuito de cervejas artesanais: “Tem um potencial muito grande. Tem cerveja artesanal desde 2009 aqui. Lumiar tem várias cervejarias artesanais, e o público se encanta. Antes, vinham curtir as cachoeiras e a comida boa. Hoje as pessoas vêm até em tempo chuvoso para poderem beber as cervejas”, diz Jonas, que ainda cita um exemplo positivo: “Lumiar tem potencial para se fazer festas cervejeiras, como está acontecendo em Friburgo”.

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Michael Jackson - esqueça o ex-cantor norte-americano – foi um especialista e um dos maiores autores sobre cerveja no mundo. Para o escritor e sommelier, a pedida em bares e restaurantes durante uma viagem tem o fator local como uma importante variante, que funciona como uma troca de favores. “Não se pede ‘um prato de comida’, então, porque não ‘uma cerveja’? Em geral, trazem uma bebida internacional insossa. É melhor pedir ‘o que há de local?’ ou escolher o que combina com o momento”, explica. Em Lumiar e São Pedro, esta teoria se tornou uma crença seguida à risca pelos cervejeiros. Thiago Emerson, da Lumiar Moutain Bier, explica o porquê das cervejas artesanais combinarem tanto com o perfil do turismo na região. “Tem essa troca de harmonização. Se você está num ambiente muito acolhedor e bebendo uma cerveja refrescante, harmoniza. Beber cervejas que combinam com o seu prato é um diferencial, pois tem elementos casando: a boa culinária, junto com uma cerveja e também o local. É sensacional isso”, afirma.  

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A importância de se contar com produtos oriundos de Lumiar e São Pedro é compartilhada por uma imensa maioria na região. Moradores, comerciantes, cervejeiros, artesãos, hoteleiros: todos reconhecem que mercadorias locais são um diferencial, um chamariz. “O turismo em Lumiar sempre foi assim. O turista vem disposto a conhecer produtos da região. Não importa se é a pizza de aipim, um licor de feijão ou uma camisa. Eles querem produtos locais. A cerveja já é um produto local e que todo mundo gosta. Tem vários estilos e acaba agradando muitas pessoas”, diz Pedro Philippe.

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Os comerciantes, que perderam um grande aliado em suas prateleiras, lamentam a situação dos nanocervejeiros locais e torcem pelo retorno, o mais breve possível, da comercialização das artesanais em Lumiar e São Pedro. “Celsinho”, proprietário do “Celso’s Bar”, é enfático: “As pessoas chegam aqui e me pedem a Von Klein, mas não tenho mais. Ninguém visita Lumiar para consumir produtos de Friburgo, eles querem experimentar as coisas que são feitas aqui. Na verdade, muitos acham que Lumiar é outra cidade, nem imaginam que faz parte de Friburgo”. Helton Almeida, da Oficina da Gastronomia, é outro que já projeta e sonha com a possibilidade de poder novamente disponibilizar produtos locais aos seus clientes: “As cervejas artesanais têm uma excelente procura. Virou uma febre. Estou em vias de voltar a vender a Von Klein, porque está em processo de legalização. Já inclusive coloquei no meu novo cardápio”, comemora.

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