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COR DO OURO

Os nanocervejeiros em Lumiar e São Pedro
Lumiar - Beto Guedes
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Reportagem especial de Brendonw  Klein

Do grão, colhido nas grandes plantações, ao copo, muitos bolsos enriqueceram e outros tantos desejam trilhar o mesmo caminho.
Grão da Cor do Ouro é uma reportagem e produção multimídia, independente e acadêmica. Seu conteúdo é contínuo e pode passar por atualizações. 

 



                   cerveja é a cara do brasileiro. No churrasco ou nas rodas de conversa em mesas de bar, é a                      protagonista e distribui atenção a todos. Ela está presente em 99% dos lares brasileiros em                        que se consume bebidas alcoólicas e tem 59% da preferência popular em relação às outras,                       segundo dados do Ibope Inteligência. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), cada brasileiro consome, em média, cerca de 66,9 litros de cerveja por ano. O levantamento coloca o País na 27ª colocação dentre as maiores nações “pinguças” do mundo. Predominantemente, os brasileiros bebem as cervejas lager, do tipo pilsen. Isto é, cervejas de baixa fermentação com cores douradas, textura leve e sabor refrescante. São as famosas “loiras”, que correspondem a 95% do mercado de cervejas em terras tupiniquins. 
 

Do início dos anos 2000 para cá, no entanto, o perfil do consumidor tem sofrido uma espécie de mutação, e o segmento de microcervejarias artesanais e especiais explodiram. Uma nova alternativa ao perfil de produto já consolidado e rentável foi oferecida aos consumidores, com estilos mais diversificados, sofisticados e de melhor qualidade. Esta modalidade de cerveja tem apresentado crescimento significativo no Brasil. Assustadas, as grandes empresas regem o ramo cervejeiro valendo-se do lobby contra a atualização da lei que rege o setor, dificultando a proliferação das pequenas cervejarias. O crescimento, no entanto, parece inevitável, uma vez que na última década a produtividade das artesanais aumentou em 64% e atualmente ocupa 5% do mercado interno, com perspectiva para dobrar o índice nos próximos cinco anos, segundo a CervBrasil. A evolução das cervejas artesanais tem permitido ao consumidor explorar de forma mais apurada os sabores, texturas, cores e aromas, levando a boemia brasileira a mostrar-se cada vez mais exigente, buscando produtos inovadores, de boa qualidade e autênticos.  
 

Lumiar e São Pedro da Serra, pequenos distritos vizinhos de Nova Friburgo-RJ, na Região Serrana do Rio de Janeiro, não escapam deste cenário que alcança todo o Brasil. Os vilarejos são alvos de turistas que fogem das metrópoles e do litoral em busca de praças bucólicas, boa gastronomia, clima ameno e paisagens naturais menos povoadas. No inverno, o frio é o grande artista da localidade. Quando chega o verão, as cachoeiras em meio à Mata Atântica retomam as atenções dos visitantes. Em ambos os casos, fica difícil não imaginar a cerveja como companhia para apreciar o que a região tem de melhor. Visando esta rotatividade de turistas e a diversidade de bares e restaurantes, um grupo de empreendedores apostaram no sonho do sucesso e aplicaram suas energias e poucas finanças em uma atividade apaixonante para eles. Se jogaram de cabeça na produção de cervejas artesanais, almejando a conquista de se realizarem profissionalmente, ganhando dinheiro e garantindo a satisfação de se trabalhar com alegria após inúmeras tentativas frustradas. 
 

Os personagens destas histórias atuam, em sua maioria, de maneira ilegal diante das exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Eles adotaram princípios inovadores, aproveitaram a demanda local e muitos já fizeram de suas nanocervejejarias a única fonte de renda. Porém, são unânimes ao alegarem que esbarram em alguns obstáculos que inviabilizam a regularização. Dentre as maiores queixas estão as bases burocráticos da lei cervejeira, altíssimas cargas tributárias, falta de informação e assistência, além da ausência de crédito para comprarem equipamentos que atendam às normas técnicas de produção e aos padrões de identidade e qualidade regidos pelo Mapa.

O que dizer de uma nanocervejaria que atende apenas dois vilarejos, disputando em desigualdade proporcional de condições com quatro concorrentes que detêm 95% do mercado? Em 2015, o Brasil caiu de 111º para 116º no ranking do Banco Mundial chamado “Doing Business”, que lista os países com mais dificuldade para se abrir e abrir e conduzir uma empresa. O estudo examinou 189 nações e levou em consideração fatores como a facilidade de obter incentivos para fundar um negócio e conseguir crédito.

 

Espalhadas por Lumiar e São Pedro, 12 cervejarias artesanais foram levantadas nesta reportagem: Von Klein, Ranz Bier, Lumiar Moutain Bier, Lumiarina, ArtBier, Encontro dos Rios, Onurb, Ilegal,  Clandestina, Ringgenberg e outras duas cervejas sem rótulo. Destas, apenas uma marca é legalizada, a Ranz Bier, que fomentou recursos e desenvolveu o negócio atuando irregularmente por cerca de cinco anos. Von Klein e Lumiarina estão em processo de regularização junto ao Mapa. As outras nove não têm previsão de regulamentação. A cerveja Dona Carmelita, que ampliava a lista, deixou de ser comercializada recentemente. As marcas Ilegal e Clandestina, pelo apelo literal de seus nomes-fantasias, indicam o cenário irregular das cervejarias artesanais na região. Os cervejeiros sem marca fabricam a bebida de forma caseira e chegam a comercializá-las em garrafas sem rótulo ou barris de chope, o que de certa forma torna a venda mais discreta.
 

Embora as dificuldades sejam tamanhas para a legalização das nanocervejarias em Lumiar e São Pedro da Serra, alguns produtores já encontram soluções criativas para evitarem a renúncia de seus sonhos. Outros seguem caminhos mais incertos, mesmo que arriscados. Desistir, porém, significaria abandonar tempo, energia, trabalho e recursos financeiros depositados nas grandes panelas, onde milhares de litros do líquido mais precioso do Brasil foram fabricados. Nesse aspecto, são unânimes. Se render? Jamais. 

 

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NOSSAS CERVEJAS

Do grão, colhido nas grandes plantações, ao copo, muitos bolsos enriqueceram e outros tantos desejam trilhar o mesmo caminho.
Grão da Cor do Ouro é uma reportagem e produção multimídia, independente e acadêmica. Seu conteúdo é contínuo e pode passar por atualizações. 

 



                   cerveja é a cara do brasileiro. No churrasco ou nas rodas de conversa em mesas de bar, é a                      protagonista e distribui atenção a todos. Ela está presente em 99% dos lares brasileiros em                        que se consume bebidas alcoólicas e tem 59% da preferência popular em relação às outras,                       segundo dados do Ibope Inteligência. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), cada brasileiro consome, em média, cerca de 66,9 litros de cerveja por ano. O levantamento coloca o País na 27ª colocação dentre as maiores nações “pinguças” do mundo. Predominantemente, os brasileiros bebem as cervejas lager, do tipo pilsen. Isto é, cervejas de baixa fermentação com cores douradas, textura leve e sabor refrescante. São as famosas “loiras”, que correspondem a 95% do mercado de cervejas em terras tupiniquins. 
 

Do início dos anos 2000 para cá, no entanto, o perfil do consumidor tem sofrido uma espécie de mutação, e o segmento de microcervejarias artesanais e especiais explodiram. Uma nova alternativa ao perfil de produto já consolidado e rentável foi oferecida aos consumidores, com estilos mais diversificados, sofisticados e de melhor qualidade. Esta modalidade de cerveja tem apresentado crescimento significativo no Brasil. Assustadas, as grandes empresas regem o ramo cervejeiro valendo-se do lobby contra a atualização da lei que comanda o setor, dificultando a proliferação das pequenas cervejarias. O crescimento, no entanto, parece inevitável, uma vez que na última década a produtividade das artesanais aumentou em 64% e atualmente ocupa 5% do mercado interno, com perspectiva para dobrar o índice nos próximos cinco anos, segundo a CervBrasil. A evolução das cervejas artesanais tem permitido ao consumidor explorar de forma mais apurada os sabores, texturas, cores e aromas, levando a boemia brasileira a mostrar-se cada vez mais exigente, buscando produtos inovadores, de boa qualidade e autênticos.  
 

Lumiar e São Pedro da Serra, pequenos distritos vizinhos de Nova Friburgo-RJ, na Região Serrana do Rio de Janeiro, não escapam deste cenário que alcança todo o Brasil, mas com predominância nas regiões Sul e Sudeste. Os vilarejos são alvos de turistas que fogem das metrópoles e do litoral em busca de praças bucólicas, boa gastronomia, clima ameno e paisagens naturais menos povoadas. No inverno, o frio é o grande artista da localidade. Quando chega o verão, as cachoeiras em meio à Mata Atântica retomam as atenções dos visitantes. Em ambos os casos, fica difícil não imaginar a cerveja como companhia para apreciar o que a região tem de melhor. Visando esta rotatividade de turistas e a diversidade de bares e restaurantes, um grupo de empreendedores apostaram no sonho do sucesso e aplicaram suas energias e poucas finanças em uma atividade apaixonante para eles. Se jogaram de cabeça na produção de cervejas artesanais, almejando a conquista de se realizarem profissionalmente, ganhando dinheiro e garantindo a satisfação de se trabalhar com alegria após inúmeras tentativas frustradas. 
 

Os personagens destas histórias atuam, em sua maioria, de maneira ilegal diante das exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Eles adotaram princípios inovadores, aproveitaram a demanda local e muitos já fizeram de suas nanocervejejarias a única fonte de renda. Porém, são unânimes ao alegarem que esbarram em alguns obstáculos que inviabilizam a regularização. Dentre as maiores queixas estão as bases burocráticos da lei cervejeira, altíssimas cargas tributárias, falta de informação e assistência, além da ausência de crédito para comprarem equipamentos que atendam às normas técnicas de produção e aos padrões de identidade e qualidade regidos pelo Mapa.

O que dizer de uma nanocervejaria que atende apenas dois vilarejos, disputando em desigualdade proporcional de condições com quatro concorrentes que detêm 95% do mercado? Em 2015, o Brasil caiu de 111º para 116º no ranking do Banco Mundial chamado “Doing Business”, que lista os países com mais dificuldade para se abrir e abrir e conduzir uma empresa. O estudo examinou 189 nações e levou em consideração fatores como a facilidade de obter incentivos para fundar um negócio e conseguir crédito.

 

Espalhadas por Lumiar e São Pedro, 12 cervejarias artesanais foram levantadas nesta reportagem: Von Klein, Ranz Bier, Lumiar Moutain Bier, Lumiarina, ArtBier, Encontro dos Rios, Onurb, Ilegal,  Clandestina, Ringgenberg e outras duas cervejas sem rótulo. Destas, apenas uma marca é legalizada, a Ranz Bier, que fomentou recursos e desenvolveu o negócio atuando irregularmente por cerca de cinco anos. Von Klein e Lumiarina estão em processo de regularização junto ao Mapa. As outras nove não têm previsão de regulamentação. A cerveja Dona Carmelita, que ampliava a lista, deixou de ser comercializada recentemente. As marcas Ilegal e Clandestina, pelo apelo literal de seus nomes-fantasias, indicam o cenário irregular das cervejarias artesanais na região. Os cervejeiros sem marca fabricam a bebida de forma caseira e chegam a comercializá-las em garrafas sem rótulo ou barris de chope, o que de certa forma torna sua venda mais discreta.
 

Embora as dificuldades sejam tamanhas para a legalização das nanocervejarias em Lumiar e São Pedro da Serra, alguns produtores já encontram soluções criativas para evitarem a renúncia de seus sonhos. Outros seguem caminhos mais incertos, mesmo que arriscados. Desistir, porém, significaria abandonar tempo, energia, trabalho e todos os recursos financeiros depositados nas grandes panelas, onde milhares de litros do líquido mais precioso do Brasil foram fabricados. Nesse aspecto, são unânimes. Se render? Jamais.                                                                                                             

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Não há, no Brasil, parâmetros de produção sequer que difiram, oficialmente, a grande cervejaria das micros. Logo, quando olhamos por uma perspectiva das produções de menor escala, dividí-las é algo feito quase que pelo sentimento. Cada um vê a situação de um jeito. Até mesmo entre os produtores a visão é complicada e o termo nano, para alguns, parece soar um pouco depreciativo. Então, antes de traçar um perfil destes produtores, vamos pensar sobre a terminologia, que vai além de dizer que produz em escala "Playmobil" ou então de "Barbie".

 

Nanocervejaria é mais que uma produção em tamanho Playmobil: difusão da cultura cervejeira. Pelo dicionário, nano significa pequeno. Cientificamente, é algo dividido por mil milhões. Parece que a segunda conotação tem mais a ver com este caso, pois as nanos são muito menores que as micro e infinitamente menores que as megacervejarias. O parâmetro para uma microcervejaria, a grosso modo, gira na casa de 200 mil litros/mês. Acima disto, adeus micro! É cervejaria e ponto final. Este padrão, inclusive, foi apontado por diversos representantes do setor para o deputado federal Paulo Pimenta, em reunião sobre microcervejarias. Mesmo não institucionalizado, é  já solidificado no meio.

 

Mas e a tal nano? A primeira conta foi: pega esses 200 mil e divide por uns 100. Ok, de 2.000 para baixo consideramos nano. Ao começar a conversar com alguns pequenos produtores, percebi logo que não era bem assim. Logo, passei para até 1.000 litros/mês, pois era precisa ter um parâmetro. Algumas cervejarias se entitulam nano, como a Grimor, de Belo Horizonte. Mas, a grande maioria, enxerga a si próprio como produtor de cerveja artesanal. Esse limite começou a ficar vago.

 

Porém, enquanto se colhiam dados e entrevistas, um parâmetro começou a surgir espontaneamente. A percepção de que o termo nano se refere ao produtor caseiro, que vende cerveja sem ser legalizado. E isto é algo no imaginário coletivo dos cervejeiros brasileiros, apesar de não estar escrito em lugar algum. Logo, vamos estabelecer este critério sem se basear em escala de produção ou até mesmo qualidade do equipamento. Assim, propomos então esta nomenclatura.

 

Desta forma, o nanoprodutor atua ilegalmente no mercado. É verdade. Mas ele, em contra-partida, tem uma função gigantesca de disseminar a cultura cervejeira, tendo um contato muito próximo com o seu cliente, impossível para uma microcervejaria. Pequenos produtores vendem seus vinhos para sua vizinhança no sul. Aquela cachacinha mineira deliciosa e sem rótulo é uma iguaria nobre. Nas empresas sempre tem um que vende bolo, doces, sanduíches. O churrasqueiro contratado do fim de semana, o pedreiro, e até mesmo o jornalista (olha eu aí) atuam sem carteira assinada, sem constituir empresa. Mas o cara que vende cerveja caseira que é um mal para a sociedade? 

O que é nano e o que é microcervejaria?

Bernardo 

Couto

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